André Ventura exige recontagem e contesta resultados das eleições
O líder do Chega garante ter recebido denúncias de irregularidades em várias freguesias e ameaça recorrer ao Tribunal Constitucional se não forem prestados esclarecimentos.

André Ventura voltou a protagonizar um momento de tensão no panorama político nacional ao contestar os resultados das mais recentes eleições autárquicas. O líder do Chega afirmou publicamente que o partido está a analisar várias situações “anómalas” detetadas durante o processo de apuramento dos votos, e que não vai aceitar o resultado sem uma verificação minuciosa.
Em declarações aos jornalistas, Ventura explicou que recebeu “relatos preocupantes” vindos de diversas freguesias, sobretudo em zonas onde o Chega esperava obter uma votação mais expressiva. O dirigente garantiu que existem discrepâncias entre o número de eleitores inscritos e o total de votos contados, levantando suspeitas sobre a integridade do processo.
Não se trata de uma questão de perder ou ganhar. Trata-se de transparência e de respeito pela democracia. Queremos que todos os votos sejam revistos e que a verdade eleitoral seja apurada”, afirmou o presidente do partido, visivelmente exaltado, à porta da sede nacional do Chega, em Lisboa.
O político indicou ainda que o partido está a recolher testemunhos e provas para fundamentar um pedido formal de recontagem em determinadas freguesias. “Estamos a agir com responsabilidade e com base em factos. O que queremos é que os portugueses saibam que o seu voto conta e que ninguém pode brincar com isso”, acrescentou Ventura.
Internamente, o partido já terá constituído uma equipa jurídica e técnica para verificar todos os dados disponibilizados pelas assembleias de voto. Essa equipa vai cruzar números, atas e comunicações oficiais, de modo a confirmar se houve ou não falhas no processo eleitoral. Caso sejam detetadas incongruências, o Chega promete agir “sem hesitação”.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) respondeu de forma prudente às acusações, informando que até ao momento não recebeu nenhuma queixa formal do partido. Ainda assim, a entidade reforçou que todos os procedimentos foram acompanhados por representantes das várias forças políticas e que o processo decorreu dentro da normalidade prevista pela lei.
A reação dos outros partidos não tardou. Vários dirigentes criticaram Ventura por, segundo eles, tentar lançar suspeitas sobre o sistema eleitoral português, considerado um dos mais seguros e transparentes da Europa. Do lado oposto, os apoiantes do Chega manifestaram-se nas redes sociais, defendendo o direito do líder a exigir esclarecimentos e pedindo uma auditoria independente.
Especialistas em política consideram que esta postura de Ventura é coerente com o estilo combativo e populista que o caracteriza, apostando numa estratégia de confronto direto e desconfiança em relação às instituições. Analistas recordam que situações semelhantes já ocorreram em anteriores atos eleitorais, quando o Chega obteve resultados aquém das expectativas.
Apesar da polémica, André Ventura assegura que não está a pôr em causa a democracia, mas sim a pedir que se aplique rigor e transparência ao processo. “Se tudo estiver certo, aceitaremos o resultado com humildade. Mas se houver irregularidades, iremos até às últimas consequências, incluindo o Tribunal Constitucional”, sublinhou o líder.
A incerteza sobre o desfecho desta contestação mantém o ambiente político em ebulição. Enquanto o Chega prepara os documentos para fundamentar o pedido de recontagem, os restantes partidos aguardam para perceber se o caso terá relevância jurídica. Para já, o episódio volta a colocar André Ventura no centro das atenções, reforçando a sua imagem de político que desafia o sistema e questiona as instituições.