Chega vai governar também..

A possibilidade de o Chega vir a governar Portugal tem sido tema central no debate político recente. O partido, liderado por André Ventura, tem capitalizado o descontentamento de uma parte significativa do eleitorado, prometendo mudanças rápidas e radicais em áreas como imigração, segurança, justiça e combate à corrupção. A sua linguagem direta, por vezes controversa, tem dividido a opinião pública, mas mobilizado eleitores que se sentem esquecidos pelo sistema.
O crescimento do Chega nas sondagens e nos resultados eleitorais mais recentes demonstra que o partido já não é visto apenas como uma força de protesto. Passou a ser uma peça com peso real no xadrez político. Apesar disso, transformar esse crescimento em poder governativo é um desafio complexo. Em democracia, para governar, não basta ter votos — é preciso conseguir apoios no Parlamento, onde se aprova o Orçamento do Estado e se votam leis cruciais.
Os partidos tradicionais, tanto à esquerda como ao centro-direita, têm evitado alianças com o Chega, alegando divergências de valores e de princípios fundamentais. Mesmo partidos mais próximos ideologicamente, como o PSD, têm traçado linhas vermelhas claras quanto a uma eventual coligação. Isto levanta a possibilidade de o Chega ficar isolado, mesmo com bons resultados, caso os restantes partidos recusem negociar.
No entanto, num cenário político fragmentado, com maiorias absolutas cada vez mais difíceis, o papel do Chega pode tornar-se decisivo. Um governo minoritário poderá ter de contar com o apoio do partido em certas votações-chave, dando-lhe uma influência indireta mas significativa. André Ventura já afirmou que está disponível para “assumir responsabilidades de governo”, mas também exige respeito pelo seu programa e pelos eleitores que representa.
A questão de se o Chega governará Portugal não depende apenas do número de votos que conseguir, mas também da vontade dos outros partidos em abrir espaço para esse cenário. A política, além dos números, vive de compromissos, negociações e equilíbrios. Se esses fatores se alinharem — seja por necessidade ou por estratégia — o Chega poderá, de facto, chegar ao poder.
Mas até lá, a incógnita permanece: será Portugal governado por um partido que quer romper com o sistema, ou os outros partidos manter-se-ão unidos em torno de uma barreira de contenção? A resposta estará nas urnas — e nas negociações que se seguirão.