ÚLTIMA HORA | Ventura entra na “via ver

Alguns observadores acreditam que esta “via vermelha” poderá significar uma fase de purga interna no partido, uma espécie de realinhamento silencioso para preparar novas alianças ou reposicionamentos públicos. Há sinais subtis: mudanças na agenda, afastamento de algumas figuras próximas e até o cancelamento súbito de eventos previstos para este mês.
O termo “vermelha” — curiosamente — tem causado inquietação nos bastidores, por remeter simbolicamente a ideias de emergência, conflito, mas também transformação radical. Ventura, conhecido pela sua retórica dura, poderá estar a entrar numa fase de transição onde a combatividade cede lugar à estratégia. Ou, como alguns já insinuam, ao instinto de sobrevivência política.
Quem convive de perto com o líder garante que algo mudou no seu olhar, no seu ritmo, na forma como escuta e fala. “Ele não está mais a jogar o mesmo jogo”, disse, sob anonimato, um dos nomes antigos do círculo venturista. “Está a preparar-se para algo maior — ou para evitar algo maior.”
A “via vermelha” pode também ser lida como um sinal de que Ventura se encontra num ponto de rutura. A pressão, as críticas internas, os desafios judiciais e a crescente tensão mediática podem estar a empurrá-lo para uma encruzilhada. Neste cenário, o silêncio torna-se não apenas tática, mas sobrevivência.
Enquanto isso, a oposição observa com desconfiança. Alguns partidos acreditam que Ventura está a preparar uma viragem populista ainda mais acentuada, explorando temas novos, mais sensíveis, que o coloquem novamente no centro do debate nacional. Outros acham que ele está simplesmente a recuar para reavaliar, preparar uma nova ofensiva — possivelmente mais calculada, menos impulsiva, mas igualmente disruptiva.
No seio do partido, reina o misto de apreensão e expectativa. Ninguém sabe ao certo o que a “via vermelha” significa no plano concreto, mas todos sentem que algo se está a mover. Há quem fale em mudanças no programa político, em aproximações a setores inesperados do eleitorado, ou mesmo em alterações de discurso para suavizar a imagem do partido junto de camadas mais moderadas.
Ventura, por sua vez, mantém-se em silêncio. Não confirma nem desmente. Limita-se a circular em pequenos encontros, a evitar declarações bombásticas e a reunir-se com assessores em ambientes controlados. A sua postura atual é quase enigmática, como se estivesse à espera do momento certo para falar — ou para agir.
Para os apoiantes mais fervorosos, esta nova fase é vista como uma etapa de maturidade política, uma prova de que o líder sabe quando avançar, mas também quando recolher-se. Para os críticos, é sinal de fraqueza, de hesitação, talvez de esgotamento. Seja qual for a verdade, o país observa com atenção o desenrolar desta viragem inesperada.
Resta saber o que, afinal, se esconde por detrás da “via vermelha”. Uma transformação estratégica? Uma travessia pessoal? Ou o prenúncio de algo maior que ainda está por vir? No xadrez político, o silêncio é muitas vezes o movimento mais perigoso.